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CASTELOBRUXO - Diário #3


01 / Fevereiro / 2015

Querido diário,

Tudo está acontecendo tão rápido, e me sinto muito ansiosa com todo esse mundo novo que se abriu diante dos meus olhos. Enquanto escrevo isto estou na Amazônia dentro de um barco em direção à CasteloBruxo, com outros nove alunos e um condutor. No meu lado sentou um argentino que jura que eu falo espanhol e não para de falar desde que partimos, mas já chego nessa história.

Ontem, eu cheguei em casa depois das compras com minha avó e fui logo esconder em meu quarto para que meus irmãos de jeito algum vejam. Quando estava arrumando minhas malas, minha mãe abriu a porta do quarto para me entregar alguns casacos, e meu irmão mais velho Vitor viu a vassoura sobre minha cama e gritou meu irmão do meio Paulo para ver. Logo entrei em desespero com os dois rindo de mim, fazendo brincadeiras sobre bruxas e coisas do tipo. Meu pai surgiu atrás dos dois com uma cara totalmente fechada e assustadora, que fez com que eles se calassem e fossem embora. Que alívio.

Então meu pai me deu uma mala antiga dele, de quando ele estudava em CasteloBruxo, a vassoura entrou com tamanha facilidade e as demais coisas grandes também que comprei. Se bobear caberia os corpos da minha família toda dentro. Fui para sala, e meus pais me ajudaram a carregar as malas, e lá estava no sofá sentado o Virgílio, o taxista de ontem. Em sua frente estava Cristina, minha melhor amiga o encarando. Logo ela veio me abraçar com lágrimas nos olhos, o que também me fez lacrimejar. Ela falava sem parar sobre o quanto ia sentir saudades de mim, que a escola não seria mais a mesma e que ali estava perdendo metade do seu coração. Bem dramática eu sei. Não consegui dizer muita coisa a ela, mas a alertei sobre ter cuidado com o que faz ou fala perto do seu gato de estimação. Ela ficou em dúvida sobre o que disse, mas a aliviei quando disse que voltaria em alguns feriados prolongados para casa.

Despedi dos meus irmãos, que bagunçaram meu cabelo, e pela primeira vez em muito tempo vi meu pai com os olhos cheios de lágrimas, minha mãe como sempre muito emotiva, desabou em choro. Virgílio então colocou minhas malas no táxi e seguimos viagem, antes de partir ele me disse:

- Espero que tenha aproveitado sua vida normal, jovem bruxinha. Quando retornar, nada mais será como antes.

Fiquei em silêncio durante toda a viagem. Então fomos adentrando um antigo aeroporto, e o táxi foi indo pela rota usada por aviões. Quando fui abrir a boca para perguntar o Virgílio o que faríamos ali, ele me disse para apertar os cintos e o táxi levantou voo. Ele viu meu encantamento com aquilo e resolveu dar uma volta sobre o Cristo redentor, o que foi incrível! E o mais impressionante, ninguém parecia estar nos vendo.


A viagem foi um pouco demorada, e acabei cochilando. Só fui acordar quando o motor do táxi fez um barulho e começamos a descer. Aterrissamos em um local rodeado de mata fechada com vários carros estacionados, podia jurar que vi uma limousine. Desci do táxi e quando peguei minhas malas, outras mãos as seguraram e virei para trás para ver quem era e me deparei com um homem grande vestido todo formal, como se fosse um conde, com a logo da escola em seu peito. Mas o mais impressionante era que seu rosto era idêntico a de um tamanduá, com focinho cumprido e tudo mais! Ele pediu licença e levou minhas malas, Virgílio riu de mim e explicou que ele era encarregado por levar as malas dos alunos para os dormitórios. E seu nome era Capelobo, e apesar de parecer um pouco assustador ele é bastante dócil e gentil.

Despedi de Virgílio, e todos os veículos começaram a decolar, e os alunos começaram a caminhar por dentro algumas árvores e os segui. Chegamos à beira de um rio e um senhor grisalho nos deu as boas-vindas. Me aproximei para poder vê-lo melhor e seus pés eram virados para trás! Pediu que o chamássemos de Obiru, confesso que quis rir quando se apresentou, e não foi só eu. Já estava escurecendo e então ele apontou sua varinha para nós, o que nos assustou muito, e várias chamas saíram da ponta nos cercando e iluminando o local. E então ele apontou para cima e das copas das árvores foram descendo cipós e ao encontrar com a água do rio foram tomando forma de barcos. Foi lindo de se ver.

Logo Obiru subiu em cima de um dos barcos para observar tudo, todos estavam alinhados, e cada chama se posicionou frente a um barco para iluminar a viagem. A capacidade em cada era de 10 pessoas, e como estava na frente fui uma das primeiras a entrar, e como disse no inicio um argentino sentou do meu lado. Achei que seria educado da minha parte lhe cumprimentar, não sei quase nada de espanhol e arrisquei dizer um “Hola”, e ele abriu um belo sorriso. Confesso que o achei bastante atraente, mas me arrependi de cumprimenta-lo, porque desde que embarcamos ele não para de falar comigo, e como não o entendo e ele não para de sorrir, acabo sorrindo junto para não parecer mal humorada.

Situação bem constrangedora, mas mal posso esperar para desembarcamos na nova escola.

Mariana Alam.

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