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CASTELOBRUXO - Diário #4


02 / Fevereiro / 2015

Querido diário,

Nada se compara com as experiências que tive em apenas um dia em CasteloBruxo! Na escola onde estudava, ainda me lembro um pouco quando entrei. Sempre me achei estranha das outras pessoas e não tinha mínima vontade de socializar com ninguém. Ainda acho incrível como eu criei um laço de amizade com a Cristina, mesmo com minha personalidade. A companhia de crianças mais novas que eu, sempre me agradou, porque não eram tão influenciadas pela maldade humana, elas tem brilho nos olhos e não transmite tanta negatividade encontrada na maioria dos adultos.

Enfim.... Quando desembarcamos na escola, seguimos por uma estrada de pedras douradas bem iluminada, e o Capelobo estava nos aguardando. Me pergunto como ele chegou tão rápido, e carregando as malas de todo mundo. Nos deu as boas-vindas e começou a dizer algumas normas a ser seguida, mas não prestei muita atenção, o cenário em volta de nós era encantador. Havia monumentos dourados por toda a parte, árvores e plantas bem cuidadas, no centro em círculo havia um enorme lago com algumas rochas no meio. Frente a esse lago tinha uma escadaria a perder de vista e no topo tinha um castelo que podia ser visto na metade do caminho à barco.

O Capelobo nos disse que o salão onde iriamos ficava dentro do castelo principal, e um dos alunos replicou dizendo que levaria horas até chegar ao topo. E então sorrindo, ele tocou uma pedra na parede ao lado da escadaria onde se abriu uma porta, fomos entrando um por um, e se ouvia gritos e depois risadas bem distantes. Quando chegou minha vez, minhas pernas tremiam mas consegui caminhar até a porta. Assim que entrei uma corrente de ar me impulsionou para cima e entendi o porquê dos gritos e das risadas no final das contas. Estava tudo muito escuro no atalho e então avistei uma saída surgindo, e eu sai do chão de uma sala e flutuei, e o buraco por onde tinha saído se fechou e aterrissei sem nenhum arranhão. Por fim, o Capelobo chegou e nos levou até o salão principal.

O salão é circular, quando se entra logo se vê uma árvore enorme no centro e seus galhos e folhas ocupando quase toda a sala e o teto. Abaixo desta árvore, tem um palco de um pouco mais de 1 metro de altura, onde tinha uma mesa com todos os professores da escola, e no centro uma mulher com um longuíssimo vestido verde escuro, parecido com esses de noiva de cauda longa. Frente a ela e a nossa também havia quatro mesas na horizontal. Nos cantos da direita quanto na esquerda do salão havia dois andares cada com mesas enormes e com alunos veteranos já nos aguardando.

A mulher de vestido de noiva verde se chamava Valentina Dourado a diretora da escola, e depois de nos cumprimentar e parabenizar por estarmos ali, nos contou que a árvore no centro do salão era uma Samaúma, considerada sagrada e mãe de todas as árvores, por ser um presente vindo dos céus para as tribos indígenas que viveram ali. Após a explicação, Valentina recebeu um papel com o nome de todos nós, e um a um foi chamando ao palco para o ritual da árvore da vida, (como nomeou ela) para receber sua varinha.


Chegou a minha vez, fui caminhando pelo salão, subi a pequena escadaria a minha frente e fiquei de frente a árvore. “Estenda sua mão” disse Valentina, e obedeci. E então um dos galhos da árvore floriu brotando uma varinha que repousou em minhas mãos. Minha varinha havia formato de um totem de águia, como a que apareceu na janela do meu quarto. 


Ao ver minha varinha, Valentina sorriu e disse que o símbolo da águia representava que estava destinada a grandes responsabilidades, e que somente pessoas de alto cargo na comunidade bruxa brasileira possuía a águia como animal de poder. Ela puxou sua varinha e lá havia uma águia entalhada como a minha. Desci as escadas pensando sobre o que ela disse, e notei que as varinhas dos outros alunos eram de animais diferentes, e até onde eu vi, era a única com esse tipo de varinha.

Depois do ritual, fomos jantar e tudo parecia com um gosto diferente do normal, tão suculento e suave de mastigar. Fome saciada, fomos separadas dos meninos para os dormitórios, onde sobre nossas camas já estavam nossas malas (Capelobo atacando novamente!). Haviam vários quartos duplos com camas de casal e uma sala de interação. Nada de beliches, e as camas são bem macias e quentinhas. Todas as outras meninas haviam uma parceira de quarto, menos eu. Então fui tomar banho para descansar o corpo, e deixei para me preocuparia com isso outro dia.

Banho tomado, fui até a sala de interação ver se havia algum livro para ler, já que não estava conseguindo dormir. E no sofá estava uma menina deitada, com as malas jogadas no chão. Dormia tranquilamente com seus cabelos azuis em tom pastel cobrindo seu rosto, e deu para ver que usava uma gargantilha no pescoço com um pingente brilhante que de jeito nenhum parecia bijuteria. Tentei passar sem acordá-la, mas acabei esbarrando em um abajur e ela levantou assustada.

Passado o susto, sentei para conversar com ela e a perguntei porque estava ali deitada, e me explicou que haviam colocado suas malas no dormitório masculino por conta do seu nome em registro. Nada de nome unissex, ela se chama Nicole, e se tratava apenas de uma garota transexual. Ao me contar seus olhos lacrimejaram, mas manteve sua postura de durona, e eu a puxei pelos braços e peguei uma de suas malas e lhe disse que havia uma cama sobrando no meu quarto e que adoraria tê-la comigo. Ela então sorriu limpando os olhos e carregou as malas para o quarto. Ficamos conversando horas a fio, descobri que era filha de um fazendeiro muito rico em Goiás, mas que morava com uma tia em Brasília, já que sua mãe é falecida e seu pai não lidou muito bem com sua transição. Notei que isso a afetava, mas não quis comentar nada sobre.

Ah, e a limousine que citei ontem era dela. Quem diria que em meu primeiro dia na escola nova faria amizade com uma patricinha...

Mariana Alam.

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